Acredito que maturidade seja isso, deitar e desenhar exatamente qual foi a participação de cada pessoa que me apareceu na vida. Consigo agora ter a serenidade ou o tormento -não menos consolador- de definir e ter consciência dos papéis que aos outros couberam desempenhar em minha vida. Retrato com habilidade aqueles que mudaram por completo minha rota, ensinando como respeitar os ventos para então preparar minhas velas, também aqueles que deram “empurrõezinhos” a precipícios, buracos em verdade, quais descobri - somente depois de sair- que nem eram tão profundos assim. Passo a entender o valor inestimável das pedras preciosas que ganhei e muitas vezes nem percebi o quanto abrilhantaram meus caminhos, percebo quantos cacos ganhei achando ser preciosos. Não descarto a importância dos detritos que acumulei na viagem, pois sei também, que aquilo que aparentemente estragara meus canteiros, na verdade serviu de adubo, e, no fim das contas só havia me sujado as botas. Dejetos são os melhores adubos... Meu diário de bordo se farta a cada tempestade, sinto-me infinitamente feliz em descobrir quanta riqueza guardei escondida nos olhos e compadecida fico pelos que carregam ao tumulo suas tristezas banhadas em ouro. Amadurecer significa estar pronta, preparada para ter serventia. Desejo obviamente o melhor, que eu sacie a fome de alegria de muitos e ainda deixe sementes de lembranças boas, mas entenderei também aqueles, que não conseguindo de mim nada extrair, adubem suas terras com rancor, inveja e outras coisitas, porque agora aceito observar sem grandes manifestos quem com pérolas alimenta seus porcos. Minhas viagens mais tenebrosas foram as que fiz “comigo mesma”, às profundezas de minha essência. Mas de todas voltei, carregada de mercadorias, quais doei e continuarei doando. Em embrulhos simples, caixas de sinceridade aos que aguardavam ansiosos meu retorno, em fardos pesados, minha feliz existência aos piratas que pela minha volta não almejavam. Satisfeita, deito sem precisar cobrir a cabeça, o frio não me assusta, ganhei conteúdo, peito, brio. Ora! Conquistei sozinha & sozinha pago o preço pela Ilha da Liberdade... Sabe qual? Aquela distante do Arquipélago da Falsidade, Menosprezo e Covardia, pertinho porém das Ilhas Verdade, Decepção e finalmente Alegria. Na minha ilha, alimento e mantenho meus peixinhos, mas aviso, faço porque desejo, até mesmo porque, meu sustento não depende de inquilinos ou turistas... Quero assim continuar velejando, tenho um porto seguro que é só meu e não atraco em cais que não me convide. Se tenho pena dos que passam a viagem toda a carregar detritos?? Não, nenhuma. Também eu os carreguei, com a diferença de que a maturidade me ensinou a re-ci-clar o aproveitável e descartar dejetos para que o Mar, aquele da Justiça Divina, deles se encarregue...
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